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No meio do caminho

Tinha uma pedra, uma mina terrestre, tinha um rio a atravessar. Tinha uma flor rompendo o asfalto, tinha um sapato descuidando da flor e outra flor mais adiante. No meio da rua tinha uma pessoa encurvada sob o frio pedindo dinheiro com um copo de papel. Tinha um menino de patins. Tinha um urso de pelúcia automatizado soltando bolhas de sabão. Tinha gente brincando carnaval e gente protestando contra o status quo. No meio do caminho tinha um poema. Um quadro de milhão de dólares recém-adquirido pelo colecionador particular. Sete bilhões de pessoas. Refugiados chegando em barcos superlotados. Um trem fazendo as vezes de hospital. No meio do caminho tinha um cachorro dormindo, aconchegado no sol do fim da tarde. No meio do caminho tinha você. Eu. Lembra que topamos um com o outro ali, e olhamos ao redor, e percebemos que ao meio do caminho confluía o mundo inteiro, e que uma formiga, distraída, arrastava uma migalha de pão?

foto: Adriana Lisboa


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